Principais termos utilizados na Educação Bilíngue de Surdos

Para facilitar a sua compreensão, listamos alguns termos importantes comumente usados na Educação de Surdos. Esses termos foram extraídos, na íntegra, dos volumes da obra Referenciais para o ensino de Libras como primeira língua na Educação Bilíngue de Surdos.

Acessibilidade linguística – acessibilidade de conteúdos em vários formatos e contextos, principalmente por meio de tradutor intérprete de Língua de Sinais ou legenda em português. 

Análise linguística da Libras – decomposição da Libras para facilitar a compreensão dos traços distintivos de sua estrutura. 

Aquisição de linguagem – processo de desenvolvimento de uma língua com base na exposição natural. Expressão tipicamente utilizada para referir-se ao desenvolvimento da primeira língua (L1). 

Aquisição tardia – aquisição de língua de sinais na fase posterior à da “janela de oportunidades”, acarretando consequências no desenvolvimento social, emocional e cognitivo de pessoas surdas. 

Arbitrariedade das línguas de sinais – quando significado e significante são constituídos de maneira arbitrária; quando não há aparente relação preexistente entre o sinal e o que ele representa. 

Áreas de conhecimento – segundo a seleção proposta pela base curricular, são cinco as áreas de conhecimento: Linguagens, Matemática, Ciências Humanas, Ciências da Natureza e Ensino Religioso. Nesse contexto, a Libras se inscreve como componente curricular na área de conhecimento da Linguagem, mas também deve ser tomada como língua de instrução e comunicação para além dos tempos destinados ao estudo formal desta língua. Cada uma dessas áreas de conhecimento tem suas competências específicas como modo de desdobramento das competências gerais. 

Arte Surda – expressões de surdos nas diferentes linguagens artísticas, como performance, literatura e artes plásticas. 

Bilíngue – refere-se a uma situação envolvendo duas línguas. 

Bilinguismo surdo – especificidade de bilinguismo caracterizado por conceitos específicos relativos à experiência visual dos surdos, à Língua de Sinais, à cultura surda e à relação com a língua majoritária. 

Boia – Sinais produzidos com a mão passiva mantida parada no ar, em dada configuração, enquanto a mão ativa continua a produzir outros sinais. 

Campo de atuação – Contextos aos quais se deve orientar e problematizar o conhecimento para posicionar os saberes frente as diferentes realidades práticas e cotidianas. Desse modo, “a organização por campos de atuação […] aponta para a importância da contextualização do conhecimento escolar, para a ideia de que essas práticas derivam de situações da vida social e, ao mesmo tempo, precisam ser situadas em contextos significativos para os estudantes.” (BRASIL, 2018, p. 84). 

Campos de experiência – Para que os estudantes da Educação Infantil (0 a 5 anos e 11 meses) possam aprender e se desenvolver no decorrer da Educação Infantil, a base propõe cinco campos de experiência relacionados a identificação de si e do outro, da percepção (de sua corporeidade e das formas de manifestação das coisas no mundo), das formas de expressão (pela produção e recepção de informações linguísticas) e da transformação desses elementos no tempo e no espaço. Os campos de experiência atuam como eixos da educação infantil propondo a progressão dos aspectos ao longo das três fases desse período escolar. 

Classe bilíngue – Turma exclusiva de alunos surdos na qual a língua de ensino, instrução, comunicação e interação é a Libras, a ser ensinada como L1, e o português é ensinado em sua forma escrita, como segunda língua (L2).

Classificador – Marcador de concordância de gênero: pessoa, animal, coisa; pode vir junto ao verbo para classificar o sujeito ou o objeto que está ligado à ação do verbo.

Comunidade surda – Espaço relacional onde surdos e ouvintes podem interagir, compartilhar vivências, experiências e informações.

Competências – Podemos compreender as competências como “objetivos” a serem mobilizados pelos estudantes da ordem de desenvolvimento do pensamento (consciência, imaginação e raciocínio) pela mobilização de conceitos e procedimentos. Condições a serem desenvolvidas por interações práticas e verificáveis na condição de suas habilidades associadas.

Competências Gerais: A base curricular brasileira hoje propõe 10 competências gerias que funcionam como fio condutor de toda Educação Básica. 

Competências específicas de Área de Conhecimento: As 10 competências se desdobram e influenciam a elaboração de competências especificas para cada uma das cinco áreas de conhecimento. 

Competências específicas do componente curricular: Por seguinte, para cada componente curricular (“disciplina”) estão dispostas um conjunto de competências próprias derivadas das estipuladas pela área de conhecimento. 

Componentes curriculares – Cada área de conhecimento tem seus componentes curriculares. Esse conceito se aproxima do que antes chamávamos de “disciplinas”. A proposta de tomá-los como componentes de um corpo maior de conhecimento, vem do desejo de marcar a interdisciplinaridade e articulação total dos saberes orientados pelas competências gerais. Por isso, cada um dos componentes curriculares apresentará um conjunto de competências especificas desdobrados diretamente dos contextos abertos pelas competências gerais.

Contato surdo-surdo – Convívio entre pessoas surdas, imprescindível para a manutenção da cultura e aquisição de identidade.

Contato visual – Ato de visualização imprescindível para comunicação em Língua de Sinais.

Cultura surda – Conjunto de características que tornam uma pessoa parte da comunidade surda; caracterizada especialmente pelas línguas de sinais.

Datilologia/alfabeto manual – Sistema de representação das letras dos alfabetos das línguas orais escritas, por meio de configurações de mão das línguas de sinais.

Deficiente auditivo – É a pessoa parcialmente surda; todo aquele que tem capacidade de ouvir, apesar de deficiente; tem audição funcional com ou sem prótese auditiva.

Desenvolvimento surdo – Desenvolvimento específico de pessoas surdas, atravessado por questões linguísticas, identitárias e culturais.

Diferença surda – Peculiaridade identitária, social e linguística das pessoas surdas.

Direitos de aprendizagem – Segundo a base, são “seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento asseguram, na Educação Infantil, as condições para que as crianças aprendam em situações nas quais possam desempenhar um papel ativo em ambientes que as convidem a vivenciar desafios e a sentirem-se provocadas a resolvê-los, nas quais possam construir significados sobre si, os outros e o mundo social e natural.” (BRASIL, 2018, p. 37).

Educação Bilíngue de Surdos – Modelo educacional que prima pela aquisição da Libras como L1 e a aprendizagem da Língua Portuguesa como L2. No contexto da Educação Bilíngue de Surdos, a Libras é a língua de instrução, ensino, comunicação e interação.

Escola bilíngue de surdos – É uma unidade escolar da rede regular de ensino, especializada na escolarização e formação integral de estudantes surdos, surdocegos, estudantes com deficiência auditiva sinalizantes, surdos com altas habilidades/superdotação, assim como de surdos com deficiências associadas. O ensino oferecido nas escolas bilíngues de surdos é mediado pela Libras, que é primeira língua de instrução, ensino, comunicação e interação nessas escolas; além do português escrito, que é língua de instrução, ensinada como L2, de modo a atender às especificidades linguísticas dos estudantes.

Escrita de sinais – Sistema de registro gráfico com símbolos que representam constituintes da Língua de Sinais.

Ensino de Libras – Ensino de Libras com metodologia de L1 para surdos ou de L2 para ouvintes.

Espacial – O uso de espaço em torno do sinalizante para referir-se a pessoas, coisas e lugares.

Estudos surdos – Campo disciplinar que conjuga estudos multidisciplinares no campo das Humanidades, que lida com o estudo sistemático dos fenômenos antropológicos, sociológicos e culturais emergentes nas comunidades surdas e da pessoa surda, em diferentes contextos. Uma área de conhecimento que se articula com a luta e os conceitos epistemológicos e ontológicos, questionando principalmente as interpretações pejorativas a respeito das pessoas, comunidades, línguas e culturas surdas.

Expressões faciais afetivas – Conjunto ilimitado de movimentos faciais que expressam emoção; são contínuos e mostram larga variação; presentes também nas línguas orais.

Expressões faciais gramaticais – Conjunto limitado de movimentos faciais com comportamentos categóricos ou discretos; componentes como escopo e forma são regras governadas e impostas pelos requisitos do sistema linguístico.

Folclore surdo – Conjunto de costumes, lendas e manifestações artísticas preservado pelo povo surdo por meio da tradição e das línguas de sinais.

Gestos – Ampla variação de movimentos (manuais, vocais ou faciais) fora do núcleo do sistema linguístico, usados para expressão.

Habilidades – Podemos compreender as habilidades como “objetivos” de ordem práticas a serem desenvolvidas pelos estudantes. Aptidões que expressam saber em agir no mundo a partir das competências e dos conhecimentos como ferramentas para viver no mundo. Apresentam-se como manifestação do desenvolvimento de competências por parte dos estudantes. Elas focam no poder de ação que o estudante terá com o desenvolvimento de certas competências.

Humor surdo – Traço com dimensão cultural; chave para a compreensão da cultura surda; o humor e as piadas surdas mostram a valorização das línguas de sinais e da cultura surda.

Iconicidade das línguas de sinais – Semelhança que o sinal tem em comum com o objeto que representa; significante motivado pelo representante no mundo real, fenômeno comum nas línguas de sinais.

Identidade surda – Categorias múltiplas e heterogêneas de sujeitos surdos emergentes em um processo de identificação entre si.

Implante coclear – Dispositivo neuroprotético implantado cirurgicamente que objetiva fornecer o senso de som a uma pessoa com perda auditiva neurossensorial moderada a profunda. 

Interculturalidade ou intercultural – Interação cultural recíproca, ou seja, entre culturas, enriquecendo o convívio e a integração com respeito pela diversidade e enriquecimento mútuo. 

Letras-Libras – Nome dado a curso de graduação nas modalidades licenciatura, que visa formar professores capacitados para lecionar Libras; ou bacharelado, que capacita para atuação como tradutor e intérprete de Libras. 

Léxico/Lexical – (1) unidade lexical, palavra de uma língua oral ou sinal de uma língua de sinais; (2) lista de palavras ou sinais que uma pessoa adquiriu; (3) lexical é relativo ao léxico. O aprendizado lexical refere-se ao desenvolvimento da linguagem relacionada ao vocabulário. 

Língua natural – Língua que se desenvolve espontaneamente, em vez de ser inventada artificialmente, e que também é utilizada naturalmente para comunicação em uma comunidade de pessoas. 

Língua de Sinais Americana – Tradução de American Sign Language (ASL), língua visuoespacial natural da comunidade surda norte-americana e canadense. 

Língua Brasileira de Sinais (Libras) – Língua visuoespacial natural da comunidade surda brasileira. 

Língua de sinais – Língua visuoespacial natural das comunidades surdas. 

Língua de sinais francesa – Língua visuoespacial natural da comunidade surda francesa e de alguns países da África. 

Literatura em Língua de Sinais – Produção/tradução cultural que objetiva o acesso à literatura geral em língua de sinais. A literatura em Libras pode ser de origem surda ou não surda. 

Literatura surda – Manifestação dos sujeitos surdos como experiência cultural e das identidades surdas; literatura produzida por surdos, destinada aos surdos e/ou sobre os surdos. 

Mímica – Expressão de pensamento por meio de gestos, expressões corporais e fisionômicas. 

Modalidade – Canal por meio do qual uma língua é produzida e percebida: oral-auditiva (línguas faladas) ou gestual-visual (línguas de sinais). 

Movimento Surdo – Manifestação coletiva de membros da Comunidade Surda ou de suas organizações na defesa ou promoção de leis que garantam direitos dos surdos: linguísticos, educacionais, culturais, profissionais etc., e que levam ao reconhecimento dos surdos como pessoas com identidade, cultura e língua próprias, além de mudanças de aspectos tradicionais com relação aos surdos, expansão das políticas públicas que tratam de questões como: cultura, Língua de Sinais, educação bilíngue, intérpretes, direitos humanos etc. 

Narrativa em Língua de Sinais – Exposição de um acontecimento mais ou menos encadeado, real ou imaginário, por meio de uma Língua de Sinais. 

Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento – “Na Educação Infantil, as aprendizagens essenciais compreendem tanto comportamentos, habilidades e conhecimentos quanto vivências que promovem aprendizagem e desenvolvimento nos diversos campos de experiências, sempre tomando as interações e a brincadeira como eixos estruturantes. Essas aprendizagens, portanto, constituem-se como objetivos de aprendizagem e desenvolvimento.” (BRASIL, 2018, p. 44). 

Objetos de conhecimento – Os conteúdos estão organizados em unidades temáticas, que, por sua vez, incluem dois ou mais objetos de conhecimento. Estes desdobram-se em um conjunto de habilidades. São temas, conceitos e processo mais específicos dentre os saberes selecionados na composição das áreas de conhecimento e variam progressivamente ao longo dos anos escolares. 

Primeira língua – A primeira língua (L1) ou língua nativa de uma pessoa. 

Professor bilíngue – Professor fluente em Língua de Sinais e Língua Portuguesa (oral e/ou escrita, quando possível) capacitado para atuar na Educação Bilíngue de Surdos. 

Produção sinalizada – Obras em Libras, produzidas em diferentes gêneros e propósitos, apresentadas em videolibras, como anúncios, listas de poesia, notícias, reportagens, contos e ensaios em vídeos ou escrita de Libras. 

Pantomima – Expressão de sentimentos e ideias por meio de gestos e atitudes, sem recorrer à palavra. 

Pedagogia bilíngue – Curso de licenciatura cujo objetivo é formar o educador bilíngue (Libras/Língua Portuguesa) apto a trabalhar com a educação de alunos surdos, em sua primeira língua e com metodologias de ensino adequadas. 

Pedagogia visual – Pedagogia que considera a forma de o surdo aprender, ensinar e construir conhecimento por meio da experiência visual. 

Povo surdo – Grupo de surdos com costumes, história e tradições em comum; que constroem sua concepção de mundo por meio de experiências visuais. 

Segunda língua – Qualquer língua que uma pessoa aprende após aprender a primeira língua. 

SignWriting – Sistema de escrita de línguas de sinais, criado em 1974, por Valerie Sutton; expressa os movimentos, as formas das mãos, as marcas não manuais e os pontos de articulação que, combinados, constituem sinais escritos. 

Sinais internacionais – Língua de Sinais artificial convencionada, utilizada especialmente em eventos ou competições internacionais. São incorporados sinais frequentes em diversas línguas de sinais e sinais icônicos. 

Sinal-arte – Sinais da língua de sinais utilizados para fins estéticos. 

Sinal – Item lexical, unidade da língua de sinais autônoma constituída de unidades fonológicas, morfológicas e semânticas. 

Sinalário – Obra que reúne o conjunto de expressões que compõe o léxico de determinada Língua de Sinais e/ou conjunto de sinais-termos de determinado texto em Língua de Sinais – recorrentemente utilizado para especificar um glossário/vocabulário em Língua de Sinais. 

Sinalização – Fala articulada em Língua de Sinais. 

Sinalizante/sinalizador – Expressão atribuída aos surdos e/ou ouvintes para adentrar a cultura surda como leitores falantes de línguas de sinais. 

Surdo/a – Pessoa que usa Língua de Sinais para se comunicar. Essa diferenciação com o ouvinte acontece pelo fato de o surdo não se comunicar por sons. Esse jeito diferente de ser produz a cultura surda, que comporta: Língua de Sinais, pedagogia surda (jeito surdo de ensinar e aprender), artes surdas, e história cultural, identidade, vida e experiências surdas. 

Topicalização – Fenômeno frequente na produção da Língua de Sinais; quando constituinte de uma oração, é deslocado para o início da frase; fenômeno estudado pela sintaxe das línguas de sinais. 

Tradutor intérprete de Libras/Língua Portuguesa – Profissional que realiza tradução/interpretação da Língua Portuguesa para a Libras e vice-versa, de maneira simultânea ou consecutiva, garantindo o direito linguístico dos surdos à acessibilidade, ao conteúdo e à comunicação. 

Unidades mínimas das línguas de sinais Configuração de mão: forma que a(s) mão(s) assume(m) durante a articulação do(s) sinal(is); movimento: trajeto que a(s) mão(s) descreve(m) no espaço; localização: ponto no espaço/corpo em que a(s) mão(s) se encontra(m) no sinal; orientação da palma: direção para a qual a palma da mão aponta na produção do sinal. Expressões não manuais: expressões faciais e corporais que acompanham os parâmetros manuais modulando o significado. 

Unidades temáticas – Uma estruturação adotada como um critério de organização dos objetos de conhecimento (“conteúdos”) de cada componente curricular (“disciplina”). Se apresentam no formato de grandes temas que organizam os componentes curriculares. As unidades temáticas funcionam como eixos pelo que se trata de temas que podem se manter ao longo dos anos escolares sendo progredido em complexidade na mudança dos seus objetos de conhecimento. 

Sinais caseiros – Crianças surdas sem acesso a uma língua padronizada costumam desenvolver sistema de sinalização caseira para se comunicar com suas famílias. 

Sinais não verbais – No campo dos estudos sobre alfabetização em língua de sinais, os sinais não verbais se referem à sinalização típica de bebês surdos, especialmente caracterizada por apontamento e direcionamento de olhar não acompanhado de sinais específicos da Língua de Sinais do seu país. 

Variações sociolinguísticas da Libras – Variações de componentes da Libras no âmbito intralinguístico (lexicais, fonológicas, semânticas etc.) e extralinguístico (etária, regional, socioeconômica etc.). 

Visualidade surda – Experiência visual dos surdos, que se desdobra em uso de Língua de Sinais; uso de pedagogia surda que especifica o jeito de ensinar para surdos e o jeito surdo de aprender; também, a linguagem corporal que evoca uma diferença no jeito de ver, descrever e narrar o mundo. 

Fonte: Referenciais para o ensino de Libras como primeira língua na Educação Bilíngue de Surdos

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