Segue abaixo, na íntegra, o resumo da tese de doutorado da Juliana Pellegrinelli Barbosa Costa.
O aluno surdo, na realidade da educação brasileira, aprende através da mediação de uma língua visogestual, a Libras, e uma língua escrita, o português. Essa pesquisa objetiva estudar as representações construídas por comunidades escolares e pelas políticas linguísticas sobre a língua portuguesa, a Libras e a escrita de sinais (SignWriting), no espaço de educação bilíngue para surdos, no estado de São Paulo. O estudo é qualitativo, etnográfico, e buscou conviver em duas escolas da rede pública de ensino sem, no entanto, cotejá-las, mas como modo de trazer suas representações para pensar os rumos da educação bilíngue para surdos. O trabalho é baseado na concepção socioantropológica da surdez e se alinha à filiação teórica da Linguística Aplicada, sobretudo quanto aos estudos sobre minorias linguísticas, sobre multilinguismo em geral, multilinguismo em relação ao surdo e letramento, dialogando com o conceito de língua adicional. O estudo se deu em torno de representações encontradas nas comunidades escolares bilíngues como um todo, a saber: o foco no uso de escrita de sinais acontece como modo de valorização da Libras e traz em seu lugar/não lugar muitas incertezas; o novo currículo é encarado como uma resposta às dificuldades do ensino de português; o reconhecimento do aprendizado da escrita de sinais como algo novo, difícil de aprender e sem utilidade para o futuro; a falta de acessibilidade linguística do surdo em sociedade gera na escola responsabilidades adicionais; a falta da acessibilidade linguística em família amplia e dificulta o papel da escola; respostas às lutas são dadas através de projetos; as ideologias linguísticas presentes nas escolas bilíngues dão contornos às práticas escolares e afetam o aprendizado de línguas; filhos de pais surdos são considerados como o caso ideal na escola bilíngue; a oralização é encarada como um problema na escola bilíngue; as dificuldades com o ensino do português levam à sua desvalorização; as línguas de sinais caseiras e seu lugar/não lugar na educação de surdos. Os resultados mostraram que as representações construídas sobre o ensino de português evidenciam sua desvalorização. Sobre a Libras, revelam a busca de um protagonismo que deveria ocorrer nos espaços sociais anteriores à escola e, quanto à escrita de sinais, é representada como pouco conhecida e solução idealizada para problemas relacionados à educação dos surdos. Essas questões perpassam a ausência do poder público quanto ao planejar linguístico e às políticas linguísticas, deixando a escola bilíngue com a imensa tarefa de lidar com o multilinguismo e o multiletramento dos surdos, como se fosse apenas sua responsabilidade. As escolas 1 e 2 desenvolvem suas propostas de educação bilíngue para surdos tentando lidar com esse cenário complexo, social e linguisticamente, de modos distintos. A Escola 1 desenvolve projetos além do espaço escolar. A Escola 2 se esforça para seguir os direcionamentos de documentos do município, lidando com uma dupla realidade: a dos documentos oficiais e a da prática escolar.
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Fonte: Unicamp
