Análise discursiva dos estudos surdos em educação: a questão da escrita de sinais

Segue abaixo, na íntegra, o resumo da dissertação de mestrado da Maria Salomé Soares Dallan.

A prática de trabalho com alunos surdos falantes de Libras – Língua de Sinais Brasileira – propiciou que assistíssemos a várias mudanças nas concepções educacionais que pensam a educação desse sujeito. Atualmente, tanto os professores surdos quanto os ouvintes chegaram a um aparente consenso de que estes alunos têm direito a uma educação bilíngue (Libras e Língua Portuguesa na modalidade escrita) para que ele se desenvolva e adquira conhecimento. Observando os atuais movimentos reivindicatórios por uma educação de qualidade para estas pessoas, elegemos como corpus desta pesquisa uma análise da coletânea acadêmica de quatro volumes, intitulada “Estudos Surdos”, editada pela Editora Arara Azul, confrontando-a com a atual Política Nacional de Educação Especial na perspectiva inclusiva. O objetivo específico é localizar, nestes documentos, dados que possibilitem dar visibilidade às inovações propostas para o ensino dos alunos com surdez inseridos nas escolas regulares. Buscamos especificamente propostas de acesso ao conhecimento, como por exemplo, uma escrita acessível, própria para a Libras, buscando identificar quais os regimes de verdade que esses textos veiculam em relação à necessidade de mudanças nos paradigmas educacionais, uma vez que o percurso educacional do sujeito surdo falante de Libras na escola ainda aponta lacunas que muitas vezes o transformam em deficiente quando este é solicitado a ler e escrever em uma língua oral auditiva. Partimos do pressuposto de que as línguas de sinais têm um sistema próprio de escrita, que já está sendo ensinado em cursos de graduação e pós-graduação em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, desde outubro de 2006 através do Curso de Letras Libras da Universidade Federal de Santa Catarina. Esta pesquisa pôde coletar dados que revelam que as opiniões expressas nesses documentos com relação ao direito a uma Escrita em Sinais ainda são incipientes para a implantação efetiva desta escrita, pois o sujeito revelado dos Estudos Surdos apresenta traços que denunciam uma transmutação dos mecanismos de biopoder, controle do corpo, impostos aos sujeitos falantes de línguas de sinais desde o tão debatido Congresso de Milão de 1880: incentiva-se mais que o sujeito aprenda a inscrever-se melhor nas práticas de leitura e escrita em português, normalizando-o e mantendo as relações de poder-saber inalteradas, do que realmente permitir que ele se inscreva nas práticas de leitura e escrita através da língua de sinais, à cultura surda. As considerações realizadas nesse estudo pretendem trazer uma reflexão aos educadores e gestores educacionais, no sentido de repensarmos a educação dos alunos surdos em relação às diferenças a que cada sujeito tem direito, ou seja, aceitar por inteiro a língua de sinais e os sujeitos que falam e são falados por ela: naturalizar sua escrita, seja em português ou em sinais.

Clique aqui para ver a dissertação.

Fonte: USF

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